quarta-feira, 10 de abril de 2013

Centro Pop, 2 anos em Pelotas

O CREAS Pop completou, dia 1 de abril passado, dois anos de funcionamento, atendendo população adulta em situação de rua, em Pelotas. A festa foi ontem (9) com um almoço de confraternização entre usuários e funcionários. Leia a seguir trechos da matéria oficial da Prefeitura (v. texto completo).


Em um almoço que reuniu cerca de 30 usuários, equipe da casa e representantes da Secretaria de Justiça Social e Segurança (SJSS) comemoram a data. No espaço, os 398 cadastrados se cruzam. Há alguns que frequentam diariamente, outros se revezam no uso da casa. São, em média, 30 por dia, das 11h às 17h.

A refeição oferecida diariamente é o café da tarde. Mas quem frequenta garante o almoço do dia seguinte no Restaurante Popular.

A supervisora da casa, Vanderlita Aguirre Leal, orgulhosa, fala sobre as vitórias alcançadas depois da criação do local, [...] acrescentando que diversos usuários já foram inseridos no mercado formal de trabalho e voltaram a estudar.

A história de cada usuário do Centro tem suas peculiaridades, um começo original. Mas acabam se fundindo. A faixa etária predominante é dos 20 aos 40 anos, mas é possível encontrar idosos entre os usuários. São poucas as mulheres que frequentam a casa. Eventualmente se vê alguma por lá.

A maioria, por falta de opção, acaba cuidando carro nas ruas. Muitos são dependentes químicos. Alguns dizem não usar ‘nenhuma droga, só bebem’. Tem os que perderam o contato com a família. Tem até os que dividem o dinheiro que ganham igualmente – metade para a família, metade para o crack.

Carlos fazia pintura, instalava gesso cartonado, tinha emprego formal e casa própria. Conta que foi expulso de casa com a família por homens armados, que queriam o espaço como ponto de tráfico. Depois de levar oito tiros foi para as ruas, onde cuida automóveis. Os três filhos, que teve com três mulheres, moram com as mães. Diariamente manda dinheiro para a mulher, por um vizinho que também é cuidador no centro. O mais velho já está na faculdade. “Às vezes ele vai me ver e chora, mas eu digo que cada um tem o seu caminho”, conta.

Luís Gilberto chegou de Campinas do Sul (RS) há 3 anos.
José é palhaço, no sentido original da palavra, mas triste conta que perdeu as roupas pelas ruas. Tem um filho de quatro anos que mora com a mãe. “Eu a amo e ela diz que me ama. O que eu faço?”. Diz não saber a razão de estarem separados, mas no meio da conversa deixa escapar o incômodo que causa por beber muito. “Eu já fiquei quatro dias sem beber”, completa.

Luis tem 35 anos. Ele não conheceu o pai. Com um ano e meio a mãe o entregou aos avós, com quem viveu até os 12 anos. Quando seus avós se separaram ele passou a viver nas ruas. Parou de estudar. Há três anos veio para Pelotas com uma empresa contratada pelo SANEP para a instalação de rede de esgoto. Aqui se apaixonou e quando o trabalho terminou decidiu ficar. Por um tempo usou crack, mas agora garante que não, que está forte. Tem três filhos, em diferentes cidades. Faz ‘bicos’ com pintura e jardinagem, mas diz que quer ‘arrumar os dentes e fazer um curso de garçom’. “Eu sempre trabalhei”, mostrando as mãos marcadas pelo trabalho pesado, e justificando que tem medo de não ter condições de fazer isso quando for mais velho. E afirma que não quer passar os anos dependendo dos outros, com um futuro incerto.
Fotos: R. Marin (Prefeitura)
Texto: Alessandra Meirelles

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