terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Morador de rua deseja um mundo melhor

O Governo Lula foi o primeiro a definir uma política nacional para moradores de rua, em dezembro de 2009 (veja o Decreto nº 7053). Pouco antes da mudança de governo, em dezembro de 2010, Maria Lúcia Santos Pereira — integrante do Movimento Nacional da População de Rua (Salvador da Bahia) — foi convidada para falar aos dois governantes - o Presidente e a sucessora (leia notícia).

O impresso O Trecheiro publicou um resumo escrito depois por ela, com o título "De frente com o Presidente" (os grifos são meus).

Durante muitos anos da minha vida, senti o desprezo e o descaso de uma sociedade que se dizia democrática e partidária. Ao entrar de cabeça no Movimento Nacional da População de Rua, de uma certa forma, foi um grito de liberdade e do desejo de ver um mundo melhor. Vontade de me sentir humana de novo, pois as ruas tiram toda a nossa dignidade e identidade.

Em 2009, tive o prazer de sentar perto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e vê-lo assinar o Decreto das Políticas Publicas da População de Rua, que, a meu ver, é nossa carta de alforria, pois éramos escravos do descaso e da discriminação da sociedade. Num momento pude ver de perto o rosto de um homem que havia olhado para o nosso sofrimento, que nos possibilitou sair da invisibilidade rumo ao protagonismo.

Ao ser convidada para fazer um discurso de agradecimento ao presidente Lula e, ao mesmo tempo, sensibilizar a presidente Dilma, em 2010, me deu um pavor imenso. Como colocar em palavras tanta gratidão, como expressar a alegria de milhares de companheiros, que haviam voltado a sonhar novamente. [...] fiquei a relembrar as partilhas, as reuniões, o brilho dos olhares que trocamos, as euforias dos planejamentos, as estratégias que idealizávamos. Pois foi isso que Lula nos deu: a vontade de lutar, a força para gritar, o desejo de nos organizar. E quando chegou o momento, permiti que tudo fluísse, percebi que bastava apenas deixar o coração falar. E o meu coração falou.

Ao me inclinar diante dele, não era a atitude de submissão e de sim de respeito e, porque não dizer reverência, não como se reverencia a um Deus, mas a um ser humano. Pois o mundo tem sede e fome de mais seres humanos.

Ser humano é ser firme sem perder a doçura, é ter honra e respeito com o mais fraco, é cumprir a palavra dada, é não esquecer que acima das ações deve existir o coração, é não ter vergonha de chorar e de se alegrar.
Somente uma coisa eu não falei e que ficou engasgada: pedir que ele não se fosse, que ele continuasse o que havia começado. Porém o meu coração ficou em paz, quando ele me falou no ouvido, que agora voltaria a visitar as ruas e que não nos abandonaria e nem nos esqueceria.
O Trecheiro nº 194 (Rede Rua de Comunicação, São Paulo, jan-fev. 2011)


Um comentário:

Anônimo disse...

Apesar de o vídeo estar vinculado a um período eleitoreiro, a fala da representante dos moradores de rua emociona, assim como o reconhecimento de que, com o governo Lula, teve a coragem de iniciar a implementação de uma política aos moradores de rua, a qual, parece, beneficia muitos deles.
Oxalá a presidente Dilma e sua equipe deem continuidade a essa política. Aos que são responsáveis pela implementação de tal política, no cotidiano do seu trabalho, desejo que consigam superar os obstáculos que porventura encontrarem pois, como disse a representante desses moradores, no vídeo, estes necessitam de HUMANITARISMO (creio ter sido esse o termo utilizado...)
Abr,
Tê!